domingo, fevereiro 25, 2007

Antiga prisão de alta segurança entregue ao abandono

Origem do documento: www.noticiaslusofonas.com, 25 Fev 2007

O mato esconde hoje a antiga prisão de alta segurança da Guiné-Bissau em Brá e apenas os locais sabem identificar o esqueleto e contar histórias daquele estabelecimento prisional destruído durante a última guerra civil no país.

Situada na estrada que liga o aeroporto Oslvaldo Vieira à capital guineense, a prisão de alta segurança de Brá foi mandada construir pelo antigo governador português Manuel Maria Sarmento Rodrigues, no final dos anos 40.

Hoje, além do mato que tomou conta do local, restam algumas paredes nas quais são visíveis janelas com grades e inscrições de antigos prisioneiros, nomeadamente "pai de sete filhos" em letras garrafais.

Com a independência da Guiné-Bissau, (declarada pelo PAIGC em 1973 e reconhecida por Portugal em 1974), Brá passa para as mãos das autoridades guineenses, continuando a receber prisioneiros.

Nessa altura, na prisão estavam "assassinos, ladrões e presos políticos que estiveram do lado dos portugueses durante a guerra", disse à Agência Lusa um antigo funcionário de Brá, hoje a trabalhar para uma empresa estrangeira na Guiné-Bissau.

"Nos anos 80, na era de Luís Cabral, vi pessoas que eram trancadas nas celas durante uma semana sem beber nem comer", lembrou o antigo guarda com quase 80 anos.

"E levavam prisioneiros para as matas de Mansoa para serem fuzilados", recordou o "mais velho", explicando que foi na altura que tentaram matar o actual presidente do país, João Bernardo "Nino" Vieira.

O "mais velho", forma respeitosa como são tratadas as pessoas mais idosas na Guiné-Bissau, contou também à Lusa que era muito difícil fugir de Brá.

"Além dos guardas, havia também um quartel que vigiava a prisão e ninguém conseguia fugir", disse.

"Brá acabou com a última guerra civil", referiu.

O estabelecimento prisional foi bombardeado durante o conflito, no final dos anos 90, e, à semelhança de outras estruturas do país, abandonado à natureza, que vai tapando as tristes lembranças da guerra.

Questionado sobre como era a prisão na altura colonial, as recordações do "mais velho" foram para a ilha de Galinhas, no arquipélago dos Bijagós, onde havia uma prisão na qual trabalhou.

Com um olhar de compreensão que só os anos de vida dão, o "mais velho" disse que a ignorância matou muita gente.

"Os portugueses não sabiam falar crioulo e quando os prisioneiros pediam água para beber não percebiam. Quando os prisioneiros iam beber água a um poço, matavam-nos com metralhadoras", contou, lembrando que também havia detidos brancos.

Uma situação que, segundo disse, mudou com a vinda do governador Spínola para a Guiné-Bissau e a nomeação de um novo comandante para a prisão da ilha das Galinhas.

Sobre os tempos de hoje, o "mais velho" considerou que "já não há prisão para ninguém, por isso é que há abusos".



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